segunda-feira, 11 de julho de 2011

A FACE DOS PÉS


Rostopés
                                                                                      "A cisterna contém: a fonte tranborda"
                                                                                                                         Willian Blake
Fernando Costa
A idéia de fotografar pés me surgiu pelos idos de 2009 na Funarte Belo Horizonte, durante uma oficina da bailarina, educadora, mãe e sobretudo ser humano fantástico: Angel Vianna. Durante a  oficina levei minha câmara para somente fazer umas imagens de registro. Porém, aos poucos, fui percebendo que a heterogeneidade dos participantes poderia ser uma rara oportunidade para fazer algo mais que registros. Angel Vianna atrai para sua luz pessoas diversas: profissionais da dança, amadores da dança, estudantes da dança, atores e atrizes, palhaços, libertários, capoeiristas, poetas. Todos buscam Angel como fonte. E certamente foram de alguma forma saciados. A idéia que me veio diante desta constatação foi: como  posso mostrar a particularidade dos participantes sem diferenciá-los em função de status social. Em nossa sociedade o rosto aparece como um dos principais elementos constituidores da identidade do indivíduo. Entretanto nossa identidade não se restringe a ele. Todo nosso corpo guarda uma identidade e assim como a face, os pés também nos revelam. Mostrando os pés ao mesmo tempo em que igualo posso diferenciar. Nessas imagens o pé transforma-se em rosto. E nesses novos rostopés vejo o estado físico e o psicológico, vejo o tempo, vejo o contato, vejo abertura e fechamento, vejo a beleza, vejo leveza, vejo  força , vejo tensão, vejo as veias, vejo o movimento, vejo o sexo, vejo sonhos. Construo uma história para esses rostopés da forma que eu quiser. O famoso torna-se anônimo e o anônimo famoso. Porém todos continuam lá com algo potente e comum: são pés humanos carregados de significados e hi(e)stória(s).  
Angel com sua humanidade nos conecta ao movimento. Não um movimento qualquer, mas um movimento verdadeiro e sincero. Nessa brincadeira ela novamente nos iguala, mas sem nunca esquecer as diferenças. Em tempos de facebook construo um footbook e dedico ele á Angel Vianna e Isadora Duncan.

Um pé depois o outro
Andressa Merçody
Uma ancestralidade habita nossos pés. Dedos, unhas, calcanhares, tarso e metatarso – somatória de vidas: idas e vindas. Conservam em si a materialização dos tempos, lançando o ser humano adiante, sendo a primeira parte do corpo que chega. Os pés são nossas raízes hominídeas que revelam nosso feminino e masculino entrelaçado ou desamparado. Algumas vezes dialogam ou se beijam. A cabeça nos liga ao céu os pés á terra. Proporcionam ao corpo a ação de pousar, sustentar, tombar, girar e vibrar no próprio eixo, criando a dança do ser. Pés andantes, andaimes, andarilhos. São frios, pré-históricos, leves, pesados, elegantes, coletivos, alongados, longilíneos, machucados, tímidos, sem vergonha...
Pés são fáceis de achar, pois ficam plantados no chão, às vezes ganham os céus com suas asas.
Rostopés participantes (ao menos os que lembrei): Angel Vianna, Margô Assis, Thembi Rosa, Fernando Costa, Marta Luiza, Joyce Caravelli, Christina Fornaciari, Marcelle Louzada, Samuel Demerson, Rui Moreira, Joana Wanner, Alessandra Brandt, Liliane Grazielle, Jésus Almeida, Ivan Sodré, Azenil, Nancy, Sara Helena, Carolina de Pinho, Carol, Diogo Netto, Bárbara Henrique, Bernardo Mendes, Flor Murta, Daniane Reis, Cida Bambirra, Cris Guerra, Juliana Capibaribe, Marilene Martins, Helena Soares, Karina Maciel, Elisa Oliboni, Irene Ziviani, Catiana de Souza, Marlla Campos, Christina Ribeiro, Jimena Castiglioni, Tiago.
Agradecimentos: Roosevelt Augusto, Andressa Merçody, Mateus Talles e a boa vontade de todos os participantes dessa pequena coreografia.